Logo às primeiras páginas, o autor dá um indicativo decisivo ao leitor em relação à opção de tornar-se psicoterapeuta: “se por alguma razão (...) é importante para você se alimentar no reconhecimento e no agradecimento infinitos dos outros, então não escolha a profissão de psicoterapeuta”. Elenca algumas características consideradas importantes nesse exercício, dentre elas o respeito incondicional ao outro - seja como for; uma aguçada curiosidade pela natureza e pela experiência humana, bem como uma boa dose de experiência de sofrimento psíquico. Aborda também assuntos pontuais, como a repercussão da ação de um psicoterapeuta travesti ou pedófilo. Conta a sua própria experiência com pacientes (inclusive o primeiro), e fala do amor de transferência com grande simplicidade e transparência - entendamos aqui o enamoramento de uma paciente pelo terapeuta: “É uma situação próxima à do abuso de uma criança, quando os adultos que ela ama e em quem confia se revelam sedentos de demonstrar sua autoridade pelas vias de fato, na cama ou a tapas”. A cura no processo analítico é outro capítulo importante, onde as nuances e as diferenças existentes entre a cura psicanalítica e a cura de um sintoma que aparece na clínica psicológica são apontadas. À indagação “O que fazer para ter mais pacientes?” responde laconicamente a partir de um assertiva de um antigo mestre: “Faites-vous connaître!” - faça-se conhecer, lembrando com isso que aquele que se propõe a escutar e a tratar as agruras do outro deve, no mínimo, dar a cara ao mundo. As regrinhas práticas do cotidiano da clínica são tratadas com perspicácia, como a associação livre, a relação do paciente com seus familiares, o uso do divã, as entrevistas preliminares, a formação do analista, o tempo de duração das sessões e a forma de pagamento. Trata-se de uma leitura dinâmica, fácil e atraente.
Sumário
1 Vocação Profissional
2 Quatro Bilhetes
3 O primeiro paciente
4 Amores terapêuticos
5 Formação
6 Curar ou não curar
7 O que fazer para ter mais pacientes?
8 Questões práticas
9 Conflitos inúteis
10 Infância e atualidade, causas internas e causas externas
11 Que mais?
.