”Fazem-me rir nossos pequenos gurus, que querem proteger-nos dela. Ou nossos pequenos psis, que querem curar-nos dela. Por que não nos curam, em vez dela, da morte?” Tratando a angústia como um ente estrutural do sujeito, o autor a traz para próximo de si com a intenção, quiçá, de travar um pacto. A parceria angústia-desejo é dissecada no capítulo intitulado Dinheiro, esse como um bem onipotente facilitador do acesso às possibilidades que o mundo oferece. É no mundo que o sujeito se inscreve, momento singular a ser elaborado assim como a escrita epistolar, que reúne efêmera felicidade e liberdade. Deslizando na interface entre a vida e a morte, o autor é textual na lembrança: “Morre-se por ser mortal, morre-se por viver, por ter vivido. A morte, ou a angústia da morte, ou a certeza da morte, é o próprio sabor da vida, seu amargor essencial”. Do recorte filosófico que desenvolveu, depreende-se a intimidade exigida no par angústia-desejo na lide com a morte, no sofrimento que reside em seu prenúncio, e na possibilidade de uma louvável antecipação voluntária – o suicídio: “paz aos suicidas assim na terra como no céu!”. Viver é, irremediavelmente, perder e ganhar, um jogo que se refaz num ciclo pulsional autônomo, onde momentos felizes e infelizes interagem em harmonia. Aos que reclamam da angústia de existir, evoca Schubert: “a infelicidade é o único estimulante que nos resta”.
Sumário
Bom dia, angústia!
O dinheiro
A correspondência
O gosto de viver
Morrer curado?
O suicídio
O luto
O niilismo e seu contrário
Mozart
Schubert
Schumann
Jesus